sábado, 27 de abril de 2024

Tarcísio transferiu R$ 22 milhões da inteligência da Polícia Civil para a Polícia Militar

O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), transferiu R$ 22 milhões do serviço de inteligência da Polícia Civil de São Paulo para pagar diárias de policiais militares. A transferência, segundo a Agência Pública apurou, aconteceu após o início da Operação Escudo na Baixada Santista, que resultou em 28 mortes em 2023. A decisão foi tomada para abrir um crédito extra para o orçamento da Secretaria da Segurança Pública (SSP).

A assinatura do decreto ocorreu no 21º dia após o início da operação, deflagrada em 28 de julho, depois do assassinato do soldado Patrick Bastos Reis, de 30 anos, da Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota).

Além dos R$ 22 milhões que PM recebeu a mais da Polícia Civil, a transferência realizada pelo governador colocou outros R$ 18 milhões na corporação. Esse dinheiro veio do orçamento do Corpo de Bombeiros e das câmeras corporais utilizadas pelos policiais militares – apenas das câmeras foram R$ 11 milhões.

A utilização desses equipamentos foi criticada pelo ex-secretário de Segurança Pública, o deputado federal Guilherme Derrite (PL-SP), ao alegar que o uso do equipamento “reduziu o número de prisões, reduziu de apreensões de armas, reduziu o número de apreensões em armas e uma série de coisas que nos levam a crer que inibiu a atividade policial”, em reunião na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp).

Questionada se o valor foi destinado para os gastos com a Operação Escudo, a SSP, sob a gestão de Derrite, disse que “no caso da suplementação citada, destinada à Polícia Militar (PM), ela foi distribuída, por meio de critérios técnicos, para a manutenção da Diária Especial por Jornada Extraordinária de Trabalho Policial Militar (Dejem) em todo o Estado, sem ter como destinação específica qualquer operação”.

<<< Por que isso importa?

•        A Polícia Militar de São Paulo é a maior do país, com mais de 80 mil militares

•        Em abril, o governo estadual publicou uma ordem que pretende permitir que policiais militares exerçam atividades de investigação que são exclusivas de policiais civis

<<< Verba para policiais militares é o dobro da que vai para os civis

Segundo o relatório de contas do governo do estado de São Paulo de 2023, estavam previstos R$ 189 milhões no orçamento para a inteligência da Polícia Civil. Esse valor se transformou em R$ 123 milhões no orçamento atualizado do estado. Ao final do ano, contudo, o valor de fato executado foi de R$ 120 milhões.

O orçamento para a PM como um todo é aproximadamente o dobro que o da Civil. Para 2023, o orçamento atualizado para a PM foi de R$ 10,3 bilhões para a PM e R$ 5,1 bilhões para a Polícia Civil. Na prática, o governo gastou R$ 9,8 bilhões com os militares e R$ 4,9 bilhões com os civis.

“Nós visualizamos o direcionamento da política de segurança pública com foco na Polícia Militar em detrimento da Polícia Civil, que é a Polícia Investigativa”, avaliou André Santos Pereira, presidente da Associação dos Delegados do Estado de São Paulo (Adpesp).

O presidente da Adpesp explica que esse dinheiro pode fazer falta no orçamento para compra de equipamentos e qualificação do efetivo na investigação de cibercrimes, por exemplo.

“Então, a delegacia especializada em cibercrimes e as outras delegacias de polícia que obviamente desempenham essa atividade de investigação no âmbito dessas fraudes ficam prejudicadas. Nós poderíamos ter a compra de equipamentos, nós poderíamos ter o investimento também na qualificação dos policiais para combaterem esse tipo de crime porque são crimes que demandam uma qualificação específica e há necessidade de treinamento nesse sentido”, disse Pereira.

A SSP, por sua vez, respondeu que a verba remanejada não impactou o orçamento previsto da Polícia Civil. “Em 2023, houve um aporte de R$ 44 milhões de outros recursos no orçamento da instituição, que neste ano recebeu outros R$ 73 milhões de recursos que não são estaduais. Esse valor se somou ao orçamento para 2024 (R$ 5,9 bilhões), que foi ampliado em 13,4% em relação ao ano anterior”, disse em nota.

“Essas e outras iniciativas, como o investimento de R$ 404 milhões para a compra de 1,2 mil viaturas e 15,4 mil armas, se refletem na produtividade das polícias no primeiro bimestre do ano”, completou a pasta.

•        Governo de São Paulo gastou metade do orçamento para câmeras corporais

A utilização de câmeras de gravação corporais por policiais militares é recomendada pelo Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária (CNPCP) para uso de agentes de segurança pública com o intuito de garantir a transparência e segurança dos policiais e da sociedade civil.

Em 24 de abril, o governador Tarcísio de Freitas firmou um compromisso com o Supremo Tribunal Federal (STF) em que se compromete a implementar o uso de câmeras corporais no efetivo da Polícia Militar durante operações.

Inicialmente, a gestão Tarcísio previa que seriam investidos R$ 152 milhões na aquisição e manutenção das câmeras corporais utilizadas pela PM. O valor atualizado desse orçamento ficou em R$ 95 milhões. O valor efetivamente executado, isto é, que foi gasto, foi R$ 84 milhões, aproximadamente a metade do orçamento inicial.

Sobre os valores retirados do orçamento destinado à compra de câmeras corporais, a pasta de Segurança respondeu que “o programa de câmeras corporais, por sua vez, faz parte de um arcabouço tecnológico em execução pela pasta e sua expansão tem sido planejada estrategicamente, de maneira responsável e com alocação adequada de recursos, elaboração de procedimentos licitatórios e logística de capacitação de seus operadores”.

De acordo com a SSP, até agosto de 2023, cerca de 10 mil câmeras estavam em operação. Até maio de 2024, será aberto um edital para a contratação de outras 3.125. Em 2023, o UOL publicou reportagem que mostra que policiais têm manipulado o sistema das câmeras corporais.

•        Desgaste entre as polícias

Para o presidente da Adpesp, André Pereira, há uma desvalorização da investigação policial. “Aos poucos nós vemos ações que indicam isso: a militarização, sim, da segurança pública em detrimento da investigação policial, que é competência da Polícia Civil”, argumentou. “Se nós temos algo a melhorar em razão do atendimento das delegacias, nós precisamos investir nas delegacias”, acrescentou.

Em 7 de abril, o subcomandante da PM de São Paulo, coronel José Augusto Coutinho, publicou uma ordem preparatória que prevê que policiais militares possam investigar crimes de menor potencial ofensivo, elaborar termos circunstanciados – que são registros de crimes de menor potencial ofensivo, cujas penas não ultrapassam os dois anos –, além de apreender materiais para que sejam encaminhados à perícia. Essas funções são exclusivas da Polícia Civil. O decreto  prevê também que os policiais militares deverão passar por treinamentos para essas funções.

Em conversa com membros da cúpula da Polícia Civil paulista, a medida foi duramente criticada, escancarando as rusgas entre as duas corporações.

No dia 23 de abril, houve uma reunião entre as chefias das polícias paulistas e foi decidido que um grupo de estudos seria formado para avaliar o decreto e sua viabilidade.

 

       Comando do MDB paulistano critica possível alinhamento do PSDB com “extrema esquerda”

 

O presidente do MDB paulistano, Enrico Misasi, disse ao Estadão “não querer crer” que o PSDB, que segundo ele sempre se opôs “ferrenhamente” ao PT e ao PSOL em São Paulo, “vá se aliar com quem, na eleição passada, apoiou a extrema esquerda contra o prefeito Bruno Covas”.

Embora não tenha citado nomes, a declaração do dirigente partidário faz referência a deputada Tabata Amaral (PSB), que tenta atrair os tucanos na eleição para a prefeitura de São Paulo. Em 2020, ela declarou apoio ao deputado federal Guilherme Boulos (PSOL) no segundo turno contra Bruno Covas. A parlamentar articulou a filiação de José Luiz Datena ao PSDB no início do mês em uma jogada para fechar a aliança com a sigla, que indicaria o apresentador como vice dela.

Misasi reagiu ao presidente municipal do PSDB, José Aníbal, que, como mostrou o Estadão, avisou ao ex-presidente Michel Temer (MDB) que não há chance do partido apoiar a reeleição de Ricardo Nunes (MDB). Uma das justificativas apresentadas por ele é que a legenda não teria protagonismo desejado na coligação do prefeito, à qual chamou de “sopa de letrinhas” — a aliança é formada por PL, PSD, Republicanos, PP, Podemos, Avante, PRD, Solidariedade, Mobiliza e ainda deve receber o União Brasil.

“Quando decidiu apoiar Bruno Covas para prefeito de São Paulo, nas eleições municipais de 2020, o MDB foi o oitavo partido a unir-se à coligação encabeçada pelo tucano, que terminou por reunir 11 legendas. Em nenhum momento o PSDB tratou como ‘sopa de letrinhas’ a aliança, ao contrário do que faz agora, de forma desrespeitosa, o presidente municipal do PSDB, em relação à frente ampla do prefeito Ricardo Nunes”, rebateu Enrico Misasi.

Emissários do prefeito têm tentado convencer o PSDB a apoiá-lo mesmo após o diretório municipal de São Paulo, liderado por Aníbal, descartar a possibilidade. Uma ala dos tucanos considera que seria incoerente não se coligar com o emedebista depois dele apoiar o partido há quatro anos, enquanto as principais lideranças querem uma candidatura própria encabeçada por Datena.

 

Fonte: Por  Rafael Custódio, da Agência Pública/Agencia Estado

 

A indústria de espionagem de Israel é uma ameaça global à democracia

Israel desenvolveu uma das indústrias de vigilância mais avançadas do mundo. Com o apoio do governo, empresas como a NSO Group têm oferecido seus serviços a regimes autoritários para ajudá-los a reprimir a dissidência política.

indústria de vigilância de Israel é uma das mais avançadas e prolíficas do mundo. Um ambiente único de habilitação legal, parcerias entre empresas privadas e militares israelenses e a disponibilidade de palestinos como cobaias gratuitas permitiram que o país se tornasse um líder mundial em exportações de tecnologia de vigilância.

Com cerca de vinte e sete empresas de vigilância, Israel tem um dos maiores estoques desses fabricantes em relação ao seu tamanho. O Pegasus do NSO Group é uma forma sofisticada de spyware categorizada como uma exportação militar pelo Estado israelense e vendida apenas com sua permissão expressa. Como outros fabricantes de vigilância, a empresa é licenciada pelo Ministério da Defesa de Israel.

O Pegasus é especialmente perigoso porque pode ser plantado secretamente, dando ao atacante controle total sobre o celular da vítima. Ele efetivamente mina todos os recursos de segurança modernos, como criptografia e transforma um smartphone em um dispositivo de escuta inteligente. Ele também pode copiar mensagens, fotos e e-mails, bem como gravar chamadas.

As investigações revelaram que o Pegasus foi usado contra o círculo íntimo do jornalista dissidente saudita Jamal Khashoggi, assassinado pela inteligência saudita em 2018. Na última década, vários relatórios também revelaram o uso do Pegasus contra jornalistas, ativistas e dissidentes políticos em vários países. O spyware facilitou assassinatos e graves violações de direitos humanos por regimes autoritários no Oriente Médio e na América do Sul.

·        Israel e Estados Unidos

As exportações autoritárias de tecnologia de Israel servem ao duplo propósito de gerar lucros e fomentar seus laços militares e diplomáticos com os países clientes. Embora esse comércio seja feito às custas dos direitos humanos e da liberdade de expressão, os Estados Unidos e seus aliados continuam a adotar uma abordagem permissiva em relação ao NSO Group e à generalizada indústria de vigilância israelense.

Nos últimos quatro anos, os Estados Unidos anunciaram várias medidas para regular o mercado de vigilância privada. Em fevereiro deste ano, Washington impôs restrições de visto contra aqueles que vendem e abusam de spyware comercial. A proibição seguiu uma ordem executiva aprovada em março de 2022 que proibiu agências do governo dos EUA de comprar esse tipo de spyware.

“As exportações autoritárias de tecnologia de Israel servem ao duplo propósito de gerar lucros e fomentar seus laços militares e diplomáticos com os países clientes.”

Em novembro de 2021, o Departamento de Comércio dos EUA colocou o NSO Group na lista negra e outra empresa israelense por fornecer spyware a governos estrangeiros envolvidos em repressão política. Uma declaração conjunta divulgada em março de 2023 pelos Estados Unidos e seus aliados pediu a regulamentação do spyware comercial. No entanto, não mencionou o NSO Group ou Israel – os líderes do setor que continuam a exportar a tecnologia para benefícios comerciais e políticos.

O NSO Group e outros fabricantes israelenses de spyware são parte integrante da segurança e do estabelecimento diplomático do país. Para todos os efeitos práticos, eles são uma extensão do Estado israelense. No entanto, não houve pressão diplomática explícita sobre Israel por parte de Washington ou seus aliados para pôr fim à exportação dessas tecnologias maliciosas.

·        Reação das Big Techs

As principais empresas de tecnologia dos EUA – Apple, Meta, Google, Microsoft e Amazon – possuem imensos recursos e capacidades de lobby. Eles entraram com ações judiciais contra o NSO Group e os condenaram publicamente como “mercenários cibernéticos”. Essa hostilidade decorre do fato de que o Pegasus mina a arquitetura tecnológica e a narrativa de privacidade/segurança na qual essas empresas investiram ao longo de décadas de marketing e alcance público.

Além disso, o spyware também compromete os modelos de negócios fundamentais dessas empresas. Em 2022, o Pentágono concedeu um contrato conjunto de computação em nuvem de US$ 9 bilhões a quatro grandes empresas de tecnologia. A capacidade de uma minúscula empresa de spyware de minar sua segurança pode, portanto, ter graves consequências para futuros contratos de defesa.

“As grandes empresas de tecnologia e o NSO Group têm interesses divergentes, e isso se reflete nas ações do governo dos EUA.”

Claramente, as grandes empresas de tecnologia e o NSO Group têm interesses divergentes, e isso se reflete nas ações do governo dos EUA. A influência superior e o lobby apoiado pelo dinheiro da tecnologia americana podem explicar por que o governo dos EUA se inclinou para banir o NSO Group e outras empresas de spyware em seu território.

No entanto, embora o NSO Group possa ter perdido seu mercado no Ocidente, isso não o impediu de tentar usar a guerra de Gaza para se reanimar. Ele se ofereceu para desempenhar um papel no esforço de guerra de Israel, comercializando suas tentativas de ajudar a rastrear israelenses desaparecidos e reféns.

Um mês após a guerra de Israel em Gaza, o NSO Group escreveu uma carta ao secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, e a funcionários do Departamento de Estado para solicitar uma reunião. Especialistas classificaram a ação como uma tentativa desesperada de “gerenciamento de crise“. Nos últimos anos, a empresa gastou milhões para pressionar legisladores americanos e sair da lista negra do governo. Agora busca capitalizar a guerra de Israel em Gaza, que matou mais de trinta mil palestinos nos últimos seis meses.

·        Diplomacia de vigilância

Apesar de enfrentar perdas devido a crescentes ações judiciais e estatais, o NSO Group continua a sobreviver e exportar sua tecnologia autoritária. Agora é impossível para a empresa israelense ganhar clientes do governo nos Estados Unidos. Ao mesmo tempo, as leis de vigilância rigorosas da UE e a robusta sociedade civil colocam desafios adicionais ao seu crescimento na região.

“Apesar de enfrentar perdas devido a crescentes ações judiciais e estatais, o NSO Group continua a sobreviver e exportar sua tecnologia autoritária.”

No entanto, o principal produto da empresa o torna importante demais para falhar. O uso do software na diplomacia segue a tendência de décadas de usar a venda de armas para ganhar favores com governos estrangeiros. A pressão de Israel pela normalização diplomática com países árabes como Emirados Árabes Unidos, Bahrein e Arábia Saudita foi acompanhada por vendas secretas de armas.

À medida que as relações de bastidores cresceram, grupos como a Anistia Internacional e o Citizen Lab da Universidade de Toronto rastrearam o uso do Pegasus nos telefones de jornalistas árabes e dissidentes. O spyware também foi implantado contra opositores políticos, jornalistas e ativistas na Índia, Hungria e Ruanda.

Israel encontrou terreno fértil no declínio dos valores democráticos em países como a Índia e no crescente apetite por tecnologia de vigilância no Oriente Médio. Em 2017, Narendra Modi se tornou o primeiro primeiro-ministro indiano a visitar o país. O New York Times informou que um acordo de US$ 2 bilhões para armas sofisticadas e equipamentos de inteligência foi assinado durante esta visita. O Pegasus e um sistema de mísseis foram os destaques desta venda.

A Índia historicamente apoia a causa palestina, e suas relações com Israel não têm sido calorosas. No entanto, em junho de 2019, votou a favor de Israel no Conselho Econômico e Social da ONU, opondo-se a um movimento para conceder o status de observador a uma organização palestina de direitos humanos, marcando uma mudança significativa de sua posição anterior.

A investigação do New York Times também revelou que países como México e Panamá mudaram seus votos na ONU em apoio a Israel após a compra do Pegasus. O relatório afirmou ainda que o Pegasus desempenhou um papel significativo, ainda não revelado, na obtenção de apoio das nações árabes para os esforços de Israel contra o Irã, bem como nas negociações que levaram aos Acordos de Abraão em 2020, que estabeleceram laços diplomáticos entre Israel e alguns de seus inimigos árabes históricos.

O isolamento global de Israel por causa de sua guerra impopular em Gaza só aumentará suas tentativas de alavancar sua indústria de vigilância para a diplomacia. O apoio inquestionável do NSO Group do governo de Benjamin Netanyahu e do judiciário israelense, juntamente com a parceria corporate-militar do país, garantirá que as vendas da tecnologia autoritária continuem, incentivando o crescimento e a proliferação da indústria de spyware de Israel.

“Embora apologia aos ideais democráticos, os países do autoproclamado mundo livre não só toleram as exportações autoritárias de Israel, como também as permitem.“

Essa indústria prospera com um fornecimento constante de indivíduos treinados e altamente qualificados da Unidade 8200, a unidade de inteligência israelense comparada à Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos (NSA). A unidade é uma rampa de lançamento para seus membros se juntarem a empresas privadas de spyware e iniciarem seus próprios negócios de tecnologia.

·        Responsabilizando Israel

Apesar do papel comprovado do Pegasus em facilitar violações de direitos humanos e subverter a liberdade de expressão globalmente, os Estados Unidos e seus aliados continuam a fornecer apoio diplomático a Israel. As ações do NSO Group chegaram a ser compradas usando fundos de pensão da British Gas. Em 2020, o governo britânico recebeu o NSO Group em uma feira comercial secreta, que foi visitada por vários governos autoritários com um histórico infame em direitos humanos.

Embora apologia aos ideais democráticos, os países do autoproclamado mundo livre não só toleram as exportações autoritárias de Israel, como também as permitem. Israel deve ser responsabilizado pelo seu papel no enfraquecimento das democracias e no encorajamento de regimes autocráticos. A autoproclamada “nação startup” que o Ocidente gosta de chamar de “única democracia no Oriente Médio” deve ser questionada em sua indústria de vigilância desonesta.

 

Ø  Netanyahu: 'Decisões do TPI não afetarão ações de Israel'; ONU define 14 anos para 'limpeza' de Gaza

 

O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, disse que quaisquer decisões emitidas pelo Tribunal Penal Internacional (TPI) não afetariam as ações de Tel Aviv, mas "estabeleceriam um precedente perigoso".

Nesta sexta-feira (26), o premiê afirmou que sob sua liderança "Israel nunca aceitará qualquer tentativa do Tribunal Penal Internacional de Haia de minar o seu direito básico de se defender. Embora as decisões tomadas pelo tribunal de Haia não afetem as ações de Israel, elas estabelecerão um precedente perigoso que ameaça soldados e figuras públicas", afirmou o premiê, citado pelo The Times of Israel.

O país do Oriente Médio foi denunciado pela África do Sul em Haia por "submeter os palestinos à fome e a atos genocidas". Tel Aviv negou que esteja fazendo tais ações em sua campanha militar na Faixa de Gaza.

Também nesta sexta-feira (26), o oficial superior do Serviço de Ação contra Minas das Nações Unidas (UNMAS, na sigla em inglês), Pehr Lodhammar, disse que a grande quantidade de escombros, incluindo munições não detonadas, pode levar cerca de 14 anos a ser removida.

Lodhammar diz que embora seja impossível determinar o número exato, a guerra deixou cerca de 37 milhões de toneladas de detritos no enclave costeiro densamente povoado e amplamente urbanizado.

"Sabemos que normalmente há uma taxa de falha de pelo menos 10% das munições de serviço terrestre que são disparadas e não funcionam. Estamos falando de 14 anos de trabalho com 100 caminhões", afirmou o oficial, citado pela mídia.

A guerra eclodiu em 7 de outubro e chegou ao seu sétimo mês. Do lado israelense, cerca de 1.350 pessoas foram mortas e 253 sequestradas. Na Palestina, mais de 35 mil pessoas foram mortas e milhares de centenas estão feriadas, segundo o Ministério da Saúde de Gaza.

 

Fonte: Por Maknoon Wani/TraduçãoSofia Schurig, na Jacobin/Sputnik Brasil

 

sexta-feira, 26 de abril de 2024




 

Ruptura política no Mercosul pode aproximar Brasil e Colômbia

Em meio a um contexto de divisão política crescente no Mercosul, o Brasil encontra-se cada vez mais isolado no Cone Sul, buscando novas alianças entre os vizinhos da região.

A Argentina, sob a presidência de Javier Milei, se distancia. Paraguai e Uruguai também demonstram alinhamentos políticos discrepantes, ainda que de forma mais discreta.

Dessa forma, para pesquisadores consultados pela Sputnik Brasil, o governo brasileiro, liderado por Luiz Inácio Lula da Silva, tem direcionado sua atenção para a Colômbia.

A recente proximidade comercial e política entre os países foi evidenciada no encontro entre empresários dos dois países no Fórum Empresarial Colômbia-Brasil, acompanhado pela Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI).

Para o professor de economia da Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP) Sillas de Souza Cezar, a mudança não é tanto uma tentativa do Brasil de se afastar do Mercosul, mas sim uma resposta à reticência dos presidentes dos países-membros do bloco em relação a Lula.

De acordo com ele, os líderes Milei, Lacalle Pou (Uruguai) e Santiago Peña (Paraguai) mostram desinteresse em alinhamentos ideológicos, seja de forma explícita ou discreta. Assim, o Brasil vê na Colômbia de Gustavo Petro uma oportunidade de estabelecer parcerias políticas e econômicas mutuamente benéficas.

A aproximação sugere também uma possível entrada do país no Mercosul, paralela às adesões anteriores da Venezuela (atualmente suspensa) e da Bolívia. "Por seu tamanho, certamente a Colômbia traria ganhos ao Mercosul. Entretanto há diversos fatores que podem desencorajar essa entrada."

"Devemos considerar acordos bilaterais do país com outros parceiros, inclusive Estados Unidos, que em algum grau compensariam sua ausência no bloco do sul. Há também problemas internos que impediriam a integração, como a persistente influência de guerrilheiros e traficantes armados na Amazônia colombiana."

Historicamente, no entanto, Cezar questiona a ideia de que este é o principal período de aproximação entre os países, lembrando de episódios nos anos 1950 e 1990, quando Brasil e Colômbia buscaram interesses comuns na agricultura, na cultura e no combate ao narcotráfico.

"Talvez a aproximação mais lembrada seja a dos anos 1990, quando os governos dos dois países uniram forças para combater seus problemas internos com o narcotráfico. A Colômbia, inclusive, foi mais bem-sucedida nesse esforço."

O cientista político e pesquisador da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) Jefferson Nascimento observa que há uma fragmentação e uma polarização crescentes dentro dos países e entre eles. "A integração latino-americana como um todo passa por um momento bastante difícil se compararmos [o período de hoje] ao momento em que Lula teve seus primeiros mandatos."

A tensão reflete-se no impasse atual do Mercosul, com as posições divergentes de Montevidéu e Assunção, além de uma priorização de Buenos Aires das relações com Washington. "Milei já deixou claro que priorizará relações com os EUA em detrimento dos vizinhos do sul. O Paraguai, mesmo na presidência temporária do Mercosul, também não parece um grande entusiasta [da integração]."

Entre os pontos de convergência de Brasil e Colômbia, segundo ele, há questões ambientais e de segurança nas fronteiras. Ambos os países têm interesse em promover uma transição energética para fontes mais limpas, ainda que existam divergências sobre o ritmo dessa transição.

"Petro, por exemplo, é contrário a que se aprovem novas licenças para a exploração de petróleo e gás. Já Lula tem uma posição dúbia, às vezes se mostrando favorável, por exemplo, à exploração de petróleo na Margem Equatorial", detalha.

Nascimento ressalta que, em um contexto de inserção periférica e dependência de commodities, a América do Sul só poderá alcançar o desenvolvimento e ter voz nas disputas internacionais por meio da coordenação e integração entre os países. "São questões que não podem ser resolvidas de forma individualizada pelos países. É preciso uma coordenação."

Em meio a tal conjuntura, o pesquisador avalia que o Brasil emerge como um país que tenta manter a coesão do bloco, para além de questões comerciais. "O estreitamento das relações entre Colômbia e Brasil é importante no sentido de tentar mediar os conflitos políticos internos na Venezuela", exemplifica.

·        Quais são os países que fazem parte do Mercosul?

O Mercosul é formado por Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai. A Venezuela também compõe o bloco, mas está suspensa dos seus direitos e deveres. Além disso, há os "Estados associados" — como a Bolívia, que está em processo de adesão ao Mercosul, previsto para ser consolidado em julho.

Chile, Equador, Guiana, Peru, Suriname e Colômbia também são Estados associados.

Nascimento entende que a entrada da Colômbia no Mercosul é improvável no momento, devido à necessidade de consenso entre os membros.

Para Cezar, devido a uma aproximação na história recente de Bogotá com a direita, uma eventual adesão sempre foi questionada, ainda que tal ideia possa sofrer alterações. "Os governos da Colômbia foram mais inclinados à direita, algo historicamente malvisto na tradicional e predominante visão ideológica do Mercosul. Mas isso tem mudado", observa.

Nascimento destaca um acordo de complementação econômica, o de número 58 (ACE 58), assinado em 2005 como uma oportunidade para ampliar as relações econômicas entre o Mercosul e outros países da região, incluindo a Colômbia, que é o terceiro maior país em população do continente.

¨      Encontro bilateral entre Brasil e Argentina vai ocorrer quando for conveniente para Lula

O presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva reconheceu ter recebido uma carta do seu homólogo argentino Javier Milei, mas afirmou não ter lido o documento.

A carta foi entregue pela chanceler argentina Diana Mondino ao seu homólogo Mauro Vieira na semana passada, durante reunião em Brasília.

A visita de Mondino ao país foi sua primeira oficial desde a posse do governo de Javier Milei, em dezembro de 2023. A chanceler garantiu que Buenos Aires está "muito interessada" em manter a relação bilateral com o gigante sul-americano.

"O gesto de Milei é importante visto que as relações entre essas duas nações devem ser de interesse comum, além das atuais diferenças ideológicas", disse o cientista político brasileiro Guilherme Simões Reis, professor da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, à Sputnik.

Enquanto isso, Lula e Milei mantêm uma distância política quase absoluta. O atual chefe de Estado argentino expressou repetidamente a sua afinidade com o ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro, antecessor de Lula no cargo e forte rival político.

"Tanto Bolsonaro quanto Milei se apresentaram como líderes de ruptura, e de forma agressiva, diante da aproximação histórica dos países sul-americanos", afirmou o especialista.

Para ilustrar as semelhanças entre os dois líderes políticos de direita, o especialista lembra que Milei realizou um encontro presencial nos EUA em abril com Elon Musk, dono da rede social X que desafia o Supremo Tribunal Federal (STF) brasileiro, que o acusou de "manipulação criminosa e intencional" da plataforma X (anteriormente Twitter) e de "obstrução" da Justiça.

No último fim de semana, Bolsonaro participou de uma grande mobilização no Rio de Janeiro, onde expressou seu apoio a Musk enquanto criticava o sistema de justiça nacional.

De acordo com Simões Reis, os contínuos ataques de Milei à figura de Lula, principalmente durante a campanha política na Argentina em 2023, não conseguem se sustentar por muito tempo e que a recente carta enviada a Lula é um sinal disso.

Para o cientista político, no entanto, um encontro bilateral entre os líderes é viável no curto prazo, mas será em um momento "mais interessante" em termos de conveniência para Lula do que para Milei.

¨      Cooperação com o BRICS pode ajudar Bolívia a acelerar processo de industrialização, diz Arce

Em entrevista exclusiva à Sputnik, o presidente da Bolívia, Luis Arce, falou sobre a intenção boliviana em fazer parte do BRICS, as reservas minerais do país e a integração social com a Palestina através da ALBA.

A Bolívia alimenta o interesse em compor o BRICS, tendo inclusive formalizado o pedido para integrar o bloco no ano passado, durante a 15ª Cúpula do BRICS, na África do Sul. À Sputnik, o presidente Luis Arce afirmou que o país vai passar pelo processo necessário para realizar o ingresso.

"Temos muito a compartilhar", disse, trazendo como exemplo, em seguida, o fato de o país ser dono de importantes reservas de lítio, além da riqueza em minerais raros.

"Queremos fazer parte do grupo para realizar o intercâmbio entre a tecnologia com nossos recursos naturais", ressaltou Arce.

Atualmente, duas empresas chinesas trabalham nas reservas de lítio boliviana, além de uma empresa russa acertando detalhes de contrato para trabalhar no Salar de Uyuni, podendo "explorar e produzir carbonato de lítio e seus derivados", afirmou o presidente, que disse que uma cooperação com o BRICS poderá trazer os países do bloco "para realizar a industrialização" na Bolívia.

Arce reconhece o valor que o lítio tem para a Bolívia, enfatizando que o país é dono das principais reservas do mineral e que isso atrai o olhar de vários países. Por isso, ele conta que "abriu para que vários países entrem numa espécie de competição para virem, de forma saudável, investir na extração direta de lítio, um método para acelerar a exploração e a industrialização do lítio boliviano".

Entretanto, o presidente afirma estar ciente de que há países que acreditam que as reservas de um país [no caso a Bolívia] são suas. Em uma oportunidade, a chefe do Comando Sul dos EUA, Laura Richardson, praticamente disse que precisa que o país exerça a tutela sobre o lítio presente na Bolívia, na Argentina e no Chile.

"Na ocasião, a senhora do Comando Sul afirmou que há três coisas que lhe interessam: terras raras, água doce e lítio. Esses três recursos naturais são o que temos na Bolívia, por isso estamos muito atentos para poder responder porque temos que defender a nossa soberania e os nossos recursos naturais na Bolívia", frisou Arce.

·        Que mensagem a Bolívia passa ao mundo ao convidar a Palestina para compor a ALBA-TCP?

Para o presidente boliviano, a Palestina enfrenta uma situação de injustiça ao sofrer o veto por parte dos EUA quando o Conselho de Segurança da ONU tratava do possível ingresso palestino como membro permanente da Organização das Nações Unidas.

Arce tratou ainda de descrever como genocídio o que acontece na Faixa de Gaza, afirmando que "o mundo pôde observar os bombardeios, onde crianças e idosos são vítimas das agressões de Israel".

Sobre o convite, o presidente disse que se a ONU não quis reconhecer a Palestina através do veto, "na ALBA-TCP, que é um grupo de países que pensa diferente, que sabe respeitar a soberania dos países, que respeita a autodeterminação dos povos, que a tenhamos entre nós de uma forma, mesmo que nominal, mas que os irmãos palestinos sintam que há países que os reconhecem e, claro, que gostaríamos de ter todos os tipos de relações econômicas e internacionais com esse país".

Segundo Arce, a iniciativa mostra ao mundo "que há países dispostos a estabelecer relações e a considerar a Palestina como mais um entre tantos países com os quais nossos países da região mantêm relações".

Arce rechaça postura do governo equatoriano contra embaixada do México em Quito

"Nem mesmo nos tempos de ditaduras militares que sofremos nas décadas de 1960, 1970 e até 1980 em vários países da região [...] nunca tivemos esse tipo de agressão e violação de tratados internacionais", comparou Arce sobre a invasão da embaixada mexicana em Quito a mando do governo equatoriano.

No dia 5 de abril deste ano, a polícia entrou à força na embaixada mexicana na capital equatoriana, onde estava o ex-vice-presidente do Equador, Jorge Glas, acusado de corrupção no caso Odebrecht.

A ação do governo do Equador, conforme Arce, abre um precedente desastroso, uma vez que viola e coloca em risco o direito de asilo reconhecido pelas leis internacionais.

O presidente argumentou que se não houver sanções contra a ação do governo equatoriano, "o direito ao asilo pode se tornar um tema variável, vulnerável", em "qualquer parte do mundo".

Arce afirmou que sempre tratará do assunto em total desacordo com o que aconteceu, concordando com os protestos do povo mexicano. Ele disse ainda que a Bolívia "apoiará as ações que o México tomará para restabelecer o direito de asilo do beneficiário".

Bullrich faz comentários sobre a Bolívia para tirar 'a atenção da crise' econômica da Argentina

Recentemente, a ministra da Segurança argentina, Patricia Bullrich, declarou que a fronteira com a Bolívia foi reforçada por ser considerada perigosa para a região, porque, segundo ela, identificaram combatentes iranianos no local.

A declaração foi totalmente rechaçada por Arce, que chamou a acusação de falsa e disse que Bullrich não tem provas.

"Ela apenas tentou desviar a atenção da crise que a Argentina atravessa. Eles têm inflação de 53% em três meses e não sabem como esconder essa inflação."

O presidente afirmou ainda que a fala da ministra argentina recebeu resposta da chancelaria boliviana.

Arce acrescentou que o desejo da Argentina em se tornar sócia global da OTAN coloca em risco a paz da região. "Sabemos o que a OTAN faz em diferentes países, vejam o que está ocorrendo no conflito entre Rússia e Ucrânia. A OTAN tem papel fundamental sobre o que acontece naquela parte do planeta", argumentou.

Ao fim da entrevista, o presidente boliviano destacou também a importância da Sputnik na América Latina, ressaltando a transparência do trabalho do veículo de comunicação.

A Sputnik "tem se mostrado um importante meio de comunicação que fala a verdade, ao contrário de outras redes de televisão que têm certa tendência a desinformar ou a dizer coisas de tal forma que a população não é alcançada com a verdade", finalizou.

 

Fonte: Sputnik Brasil

 

Quem cortou a luz no dia do golpe?

Oito de janeiro de 2023.

Eram 21h30 quando uma torre de energia tombou em Cujubim, Rondônia.

O segundo ataque veio logo depois.

Brasília ainda ardia sob a fúria dos atos golpistas que atacaram Palácio do Planalto, Congresso e Supremo Tribunal Federal quando, 0h13 em ponto, exatas duas horas e quarenta e três minutos depois da primeira, desabou a segunda torre em Medianeira, Paraná. 0h40, num espaço de três horas e dez minutos entre as três, foi ao chão a terceira. Em Rolim de Moura, também Rondônia, a cerca de 380 quilômetros de Cujubim.

O documento da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) que relata os acontecimentos dos ataques as linhas de transmissão de energia do Brasil em janeiro de 2023, obtido pela reportagem através da Lei de Acesso à Informação, é definitivo:

·        Sabotagem e ação criminosa

“Sabotagem. Atuação ou tentativa criminosa”. Define como “ações criminosas”. E completa: “não foram registradas condições climáticas adversas que possam ter causado queda das torres”.

No total, entre os primeiros ataques, no dia 8 de janeiro e o dia 31, foram 24 torres avariadas em 14 diferentes locais, espalhados por seis estados: Rondônia (4 locais), Paraná (4), São Paulo (3), Mato Grosso (1), Piaui (1) e Pará (1). Quatro foram ao chão, sendo que 3 em Rondônia e uma no Paraná. As três atacadas em 8 de janeiro ao longo da noite e madrugada, (duas em Rondônia e uma no Paraná) foram ao chão. O laudo de todas define como  sabotagem.

Em todos os casos, ocorreu a repetição sistemática de um conjunto de ações: todos os parafusos da base das torres foram retirados, “ficando a torre sem sustentação, possibilitando a queda”. Além dos parafusos, foram cortados também os cabos de sustentação.

Em resumo: existiu um modus operandi. Um método repetido que uniu todas as ações.

Mais do que isso: uma organização, planejamento e pessoas com treinamento para tal operação realizada de forma sistematizada.

·        Atos golpistas em Brasília e torres de energia atacadas: um só plano

“É preciso não perder de vista jamais que o caso das torres derrubadas começam no mesmo dia, quase simultaneamente, exatamente horas depois do início dos eventos golpistas de Brasília, ao anoitecer. O que pode ser entendido como parte de um mesmo plano. Dentro desse plano, Brasília já estaria tomada pelos golpistas no executivo, judiciário e legislativo, e problemas em série com a rede de energia trariam de vez o caos ao país. Restaria a decretação da Garantia da Lei e da Ordem (GLO) e o poder transferido para o exército. E o governo estaria entregue. Hoje sabemos que esse era o plano”, resume um servidor envolvido na apuração dos episódios do 8 de janeiro e que pediu para não se identificar.

O histórico anual de ocorrências em torres de energia também afasta a hipótese do acaso. De acordo com a ANEEL, o ano de 2023 representa um recorde. Mais especificamente janeiro de 2023, mês em que as ações se concentraram. Para se ter uma ideia através de termos comparativos, 2019 inteiro fechou com dois registros de vandalismo em torres. Menos do que o 8 de janeiro de 2023.

Esquecido no noticiário sobre a tentativa de golpe de 8 de janeiro, jamais citado como objeto da investigação em curso sobre , sem nenhuma prisão ou operação específica, o episódio dos ataques às torres de energia foram e requerem, no entanto, tanta complexidade ou mais, logística, verbas e expertise do que os próprios eventos de 8 de janeiro ocorridos em Brasília.

Coisa de especialista.

Em relação aos episódios de Brasília, as investigações caminham para uma direção. Em relação aos ataques contra as torres, os caminhos e os relatórios da ANEEL mostram também alto grau de profissionalismo.

·        Os Kids Pretos em ação

Em junho de 2022, o repórter Allan de Abreu publicou a reportagem “Os Kids Pretos – O papel da elite de combate do Exército nas maquinações golpistas”, na revista Piaui, onde, pela primeira vez, era citada a participação efetiva de militares da forças especiais, os chamados “kids pretos”, na tentativa de golpe de 8 de janeiro.

Na ocasião, a reportagem mostrou que o nível de organização das ações na capital demandava profissionais capacitados.

E os profissionais no exército capacitados para tal, treinados em operações especiais, eram os kids pretos, círculo de oficiais que formavam o ciclo mais próximo a Jair Bolsonaro.

Os kids pretos são treinados emações de sabotagem e incentivo à insurgência popular, as chamadas “operações de guerra irregular”.

·        Modus operandi: parafusos da base retirados e cabos cortados

As fotos abaixo, todas constantes do relatório da ANEEL sobre os ataques, mostram as distintas sabotagens, como retiradas de parafusos estratégicos na base, corte de cabos também da base e retirada de hastes de sustentação:

Desde o início das investigações sobre os atos golpistas, duas operações especificamente voltadas para a participação e organização dos kids pretos já foram realizadas pela Polícia Federal.

Em 29 de setembro de 2023, a PF realizou mais uma etapa, a 18ª, da “Operação Lesa Pátria”, nome da investigação que apura financiadores, participantes e organizadores dos atos golpistas. A operação foi voltada especificamente para cumprir um mandado de busca e apreensão contra o general da reserva Ridauto Lucio Fernandes, um “kids preto”, que chegou a gravar vídeo da própria participação nos atos golpistas de 8 de janeiro.

“A nova fase da Lesa Pátria faz parte de uma frente da investigação que busca identificar supostos integrantes das Forças Especiais do Exército, os chamados “kid pretos”, que teriam dado início às invasões às sedes dos Três Poderes”, comunicou então a Polícia Federal.

Já em 8 de fevereiro de 2024, foi deflagrada a “Operação Tempus Veritatis” da Polícia Federal, para apurar os crimes de golpe de Estado e abolição do Estado Democrático de Direito por membros do governo de Jair Bolsonaro, apontou que integrantes das Forças Especiais do Exército, os chamados “kids pretos”, estiveram envolvidos em um “planejamento minucioso” para impedir a posse de Lula na presidência da República.

De acordo com a PF, “houve planejamento minucioso de kids pretos do exército para a consumação do golpe de estado”. O plano envolveu uma reunião em novembro de 2022 com oficiais especializados em ações contra terrorismo, insurgência e guerrilha. Os “kids pretos” seriam os responsáveis por realizar as prisões de autoridades após a edição de um decreto de intervenção militar. Entre os alvos estaria o ministro do STF, Alexandre de Moraes, que chegou a ser monitorado pelos investigados.

Os detalhes do plano foram relatados em mensagens encontradas no celular do tenente-coronel Mauro Cid, que fechou colaboração premiada com a Polícia Federal.

·        Outro lado

A reportagem enviou para a Polícia Federal um pedido oficial de resposta sobre as investigações específicas sobre o ataque às torres, mas não recebeu resposta.

 

Fonte: Por Lúcio de Castro, na Agência Sportlight